Por que saímos do armário e assumimos ser uma banda gospel?

23/01/2023

Quando o cristão faz música, quase automaticamente é enquadrado como artista gospel. Obviamente, muitas são as críticas - boa parte legítima e oportuna - entretanto, é inegável que, em termos de organização de mercado, o rótulo ajuda consideravelmente. Um posicionamento confuso pode comprometer demais um trabalho, por melhor que seja sua qualidade musical. Quando não há clareza no conceito, na mensagem, o público tem dificuldade de entender.

Se o artista compõe de uma forma, se posiciona de outra e se rotula de uma terceira maneira, imagina como fica a cabeça do ouvinte. Como entender esse amontoado de informações desconexas?

Como banda, percebemos a importância de definirmos um gênero musical para melhorar nossa conexão com o nosso público. Lutamos bastante contra o rótulo gospel, mas resolvemos abraçá-lo (não de forma acrítica, óbvio), por alguns motivos:

1) Num podcast sobre music business, foi falado que, quando você não rotula sua música, as pessoas o farão por você. E depois não adianta reclamar se você for parar numa prateleira que não é a que gostaria. Logo, é melhor assumir a frente e escolher um rótulo que combine mais com seu trabalho do que correr esse risco;

2) Na mentoria com o NovoArtista, questionamos se deveríamos ser explícitos nas letras em relação a nossa fé. A resposta foi um retumbante "sim", com a justificativa de que, quanto mais sincero fossemos com a nossa verdade, mais isso traria fluidez e sinceridade no processo criativo;

3) Por inúmeros motivos, o gospel tem sido renegado por boa parte das bandas do nosso micro nicho. É evidente que existem diversas críticas a serem feitas ao gospel, porém, por outro lado, há um medo enorme de algumas bandas/artistas. Sim, medo de assumirem a responsabilidade de expor publicamente sua fé e não conseguirem viver a altura. Fato é que só Jesus viveu a altura. Nós somos discípulos imperfeitos caminhando sob a graça de Deus, numa busca incessante por santificação. É verdade que o holofote em cima do artista acaba, algumas vezes, explicitando seus pecados; mas, não há um monte de crente vivendo uma vida podre em segredo?! Acontece que nada fica oculto aos olhos de Deus. No final, todos prestaremos contas diante do Senhor, inclusive aquele hipócrita que destila ódio, acusação e tem prazer em destruir ao invés de lutar para que o caído se redima. Se ainda assim alguém quiser nos acusar de algo, é só ler nossas letras. Lá estão explícitos quase todos os nossos podres. Queremos resgatar essa perspectiva da vida cristã real, com as suas falhas, sem triunfalismo, mas totalmente dependente da Verdade e da Graça;

4) Certa vez, o Zé Bruno (banda Resgate) explanou brilhantemente como o gospel foi de movimento para segmento de mercado e que, na concepção dele, foi aí que tudo degringolou. Concordamos com a análise, mas discordamos dos desdobramentos. À partir da concepção dooyeweerdiana das esferas modais, cremos que podemos e devemos trabalhar nesse segmento de mercado para a glória de Deus. O dinamismo da cultura humana influencia a teoria das esferas modais de modo que novos campos podem surgir no decorrer do tempo. Se a sociedade não é estática, as esferas modais também não o são. Uma vez aberto um novo aspecto, não há volta, teremos que lidar com ele. Entendemos que o gospel como segmento de mercado é um novo modal (ou talvez um desdobramento novo dentro de uma esfera já existente), com o qual temos que lidar inevitavelmente. Nega-lo não é uma opção;

5) Por fim, entendemos que há uma limitação em rotular A Trilha meramente como rock gospel, pois isso nos vincula a uma sonoridade e uma maneira de compor que se tornou característica desse gênero, porém que, na maioria das vezes, não condiz com o fazemos. Então, de forma humilde e audaciosa, propomos a inauguração do Novo Rock Gospel.

Prazer, somos A Trilha e fazemos Novo Rock Gospel. Nos acompanhe para entender melhor.